sábado, 25 de agosto de 2007

Orlando


Pode-se dizer que esta é uma obra conjunta de Virgínia Woolf, a escritora, e Cecília Meireles, a tradutora. Uma biografia que poderia ser minha ou sua, de um brasileiro ou um britânico, de um miserável ou um abastado, em qualquer tempo. Uma leitura que nos propõe questionar a consciência, os medos e a hipocrisia humana.

“Nenhuma paixão é mais forte, no peito humano, que o desejo de impor aos demais a própria crença.”

“... era homem; era mulher; conhecia os segredos, compartilhava as fraquezas de cada um ... Não é para admirar que confrontasse os sexos entre si, e alternativamente achasse cada um repleto das mais deploráveis misérias e não soubesse, com segurança, a qual pertencia.”

“E apesar disso mantém uma fé para a qual os bens são vaidades e a morte desejável.”

“- És mulher, Shel – disse ela.
- És homem, Orlando – disse ele.”

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Cidadãos do Mundo

O cotidiano, o nosso dia-a-dia, muitas vezes por sua correria, nos impede de refletirmos sobre determinados assuntos, principalmente aqueles chamados “polêmicos”. Fechamos- nos, por puro egoísmo, a discussão de fatos importantes ao desenvolvimento social. São necessários muitos debates, discussões, mesas redondas, ou simples conversas tomando uma cerveja num boteco, para deslancharmos idéias e ideais. A troca de experiências faz enriquecer e aperfeiçoar o que queremos e pensamos para que possamos reivindicar e questionar nosso sistema político e econômico.

Quando se fala sobre o sistema capitalista, percebo que parece ser um caminho inevitável. Muitos simplesmente contrapõem o Capitalismo e o Socialismo, ou são radicais ao ponto de propor a derrubada do atual sistema sem propor outro que seja justo e igualitário, e que possa ser implementado sem preconceitos e totalitarismo.

É necessário que se pense em alternativas viáveis capazes de amenizar o sofrimento e a fome de grande parte da população brasileira e mundial, e se será necessária uma revolução, ou as mudanças aconteceriam gradualmente? Uma revolução pode ser mal vista pelas mudanças radicais e inesperadas, mas será que conseguiríamos transformar o que há hoje com mudanças graduais? Será que esta forma não seria apenas uma maneira dos poderosos de hoje se perpetuarem no poder e manter o abismo entre ricos e pobres?

Em qual proporção melhoramos nosso mundo racionando água, utilizando meios de energia renováveis, se o Mundo (digo as Nações e as Organizações Internacionais) não pressionarem e obrigarem o maior vilão da poluição mundial, os EUA, em pararem sua devastação do ar, do solo, da água etc.

É necessário que sejamos capazes de distribuir melhor os lucros das empresas multinacionais, que se instalam pelo mundo utilizando as melhores e mais baratas matérias-primas e as piores remunerações de mão-de-obra possíveis, não garantindo a estas pessoas a mesma dignidade que os cidadãos de seus países recebem.

É possível nos tornarmos cidadãos do mundo, lutando pela igualdade étnica, racial, sexual, de gênero, entre pessoas de todos os países, tolerando nossas diferenças mentais, físicas, religiosas, políticas, de idade, de idéias e pensamento.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Memórias

Ela tem menos de 18 anos.
O fogo entre as pernas é típico da idade.
Sai, volta tarde. Não tem o que falar.
Tapa na cara.
Chora.
Sua mãe pede: “não bate na menina, não”.

Amigos conversando. Dois nem tanto.
Nem tanto amigos, nem tanto conversando.
Digo que gosto. Ele grita.
Um tenta falar. Não consegue. Tenta de novo.
Ela não lê livros. Não gosta. Ele grita.
Afinidade se conquista, mas também é natural.
Todos bebemos, aí somos iguais. Mas ela não bebe.

Tínhamos oito anos. Descobrindo o sexo.
Já não se descobre o sexo como antigamente.
Cruzamos pela rua uns dez anos depois.
Cumprimentamos-nos. Ninguém para.

Grávida. Marginalizada. Maltrapilha.
Passa pela porta giratória. Atravessa.
Para em minha frente, me interrompe. Pede 10 “real”.
Digo que não tenho. Tinha no mínimo 50, pra ela pagar 150.
Não sei como. Talvez vendendo seu corpo, vendendo seu filho que ainda não nasceu. Roubando.
O banqueiro é humano, não empresta os 50 reais.
Ela não precisa se vender.

Festa na casa de um desconhecido.
Ônibus cheio. Mais de uma hora.
Chegamos.
Pego uma faca. Acerto em cheio o gelo. Outras facadas.
Latinhas de cerveja sob o gelo. Furo uma.
Vejo pela primeira vez seu sorriso.