
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Entre o “povão” e a classe média, FHC anda mesmo pensando nas eleições de 2014

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Pão e Circo Virtual
Informações, entretenimento, cursos, compras, sexo, comunicação tornaram-se alcançáveis com o chamado: “apenas um clique”.
Mas quem define o que nós consumimos neste jovem mundo virtual? Nos últimos dias resolvi acessar três grandes provedores brasileiros (Globo, UOL e Terra) e observar somente as “principais” notícias. Entre aspas porque considero aqui como principais aquelas que primeiro vemos ou lemos quando entramos no site.
Sei que em minha pesquisa não há um aprofundamento, mas achei interessante falar aqui sobre o que foram as 150 principais manchetes virtuais dos últimos dias.
Pasmem! Esporte é o tema de 32% das manchetes - chegando a 36% no Terra. Aliás este site tem a mesma percentagem se somarmos matérias sobre: política nacional, política internacional, economia, música, cinema e matérias internacionais.
O UOL é o que possui menos matérias esportivas (mesmo assim, consideráveis 28%). É nele também que há mais sobre política internacional (20%), impulsionado pelos atuais conflitos no chamado “mundo árabe”, mais sobre economia (irrisórios 6%) e também: música e cinema (6%). Aliás, foi o UOL que me inspirou a realizar esta pesquisa pois cada vez mais é difícil ter acesso aos jornais e revistas nacionais e internacionais, para os não assinantes, é claro.
O Globo possui incríveis 76% de suas principais manchetes sobre: Esporte, 32%; BBB, 22%; Polícia/Violência, 18%; e, Novelas, 4%. Enquanto matérias sobre política nacional, política internacional e economia totalizam 12%. Aliás uma manchete de destaque de hoje me chamou muita atenção. Era sobre o que o ex-jogador de futebol Ronaldo pensa sobre a Talula do BBB11.
Resta a questão: É o internauta quem define este consumo ou a dinâmica é inversa e somos “forçados” a consumir isto?
Apesar da falta de cientificidade de minha pesquisa, nossas crianças e adolescentes – assíduos usuários da internet, precisam adquirir uma capacidade crítica para notar que o essencial para a grande mídia pode, se assim quiser, ser facilmente descartado de seu cotidiano.
Abaixo o Pão e Circo Virtual!!!
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Racismo às avessas
Uma afirmação lógica que para mim beira um discurso pronto e bem formulado de uma elite branca com intenções claras de desviar a atenção sobre o que realmente se quer dizer. Incrível foi notar fortemente este discurso em África, especialmente entre os mulatos.
Largando mão dos conceitos, quando falamos em questões de gênero, não pensamos em políticas voltadas aos homens, quando debatemos questões sobre orientação sexual, não pensamos como alguns heterossexuais são discriminados, e é claro quando tratamos de questões raciais, buscamos lidar com políticas inclusivas de grupos raciais excluídos.
O que conta aqui são as dificuldades encontradas por grupos minoritários em obter um status igualitário. Abaixo a hipocrisia! Porque todos sabemos que apesar de haver legislações que contemplem a igualdade racial, na prática, no dia-a-dia os negros esbarram no imaginário coletivo de uma subordinação racial.
Outro discurso que precisa ser combatido é quando falamos em políticas de ação afirmativa que garantam uma maior inserção social aos negros, seja acesso à Universidades, políticas trabalhistas etc. “Isso é causador de mais discriminação, não pode-se acabar com o preconceito com mais preconceito”.
Quando estamos em um sistema que legitima as diferenças, que se alimenta das disparidades entre ricos e pobres, brancos e negros, heteros e gays, homens e mulheres, temos que tratar os desiguais de forma desigual. Por mais incoerente que pareça, neste caso, a “dissemelhança” a curto prazo, nos trará a possibilidade da verdadeira igualdade.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Lula, Noblat e o Aposentado
Noblat
Quem é você para decidir pelo Brasil (e pela História) quem é grande ou quem deixa de ser?Quem lhe deu a procuração? O Globo? A Veja? O Estadão? A Folha?
Apresento-me: sou um brasileiro. Não sou do PT, nunca fui. Isso ajuda, porque do contrário você me desclassificaria, jogando-me na lata de lixo como uma bolinha de papel. Sou de sua geração. Nossa diferença é que minha educação formal foi pífia, a sua acadêmica. Não pude sequer estudar num dos melhores colégios secundários que o Brasil tinha na época (o Colégio de Cataguases, MG, onde eu morava) porque era só para ricos. Nas cidades pequenas, no início dos sessenta, sequer existiam colégios públicos. Frequentar uma universidade, como a Católica de
Pernambuco em que você se formou, nem utopia era, era um delírio.
Informo só para deixar claro que entre nós existe uma pedra no meio do caminho. Minha origem é tipicamente ?brasileira?, da gente cabralina que nasceu falando empedrado. A sua não. Isto não nos torna piores ou melhores do que ninguém, só nos faz diferentes. A mesma diferença que tem Luis Inácio em relação ao patriciado de anel, abotoadura & mestrado. Patronato que tomou conta da loja desde a época imperial.
O que você e uma vasta geração de serviçais jornalísticos passaram oito anos sem sequer tentar entender é que Lula não pertence à ortodoxia política. Foi o mesmo erro que a esquerda cometeu quando ele apareceu como líder sindical. Vamos dizer que esta equipe furiosa, sustentada por
quatro famílias que formam o oligopólio da informação no eixo Rio-S.Paulo ? uma delas, a do Globo, controlando também a maior rede de TV do país ? não esteja movida pelo rancor. Coisa natural quando um feudo começa a dividir com o resto da nação as malas repletas de cédulas alopradas que a União lhe entrega em forma de publicidade. Daí a ira natural, pois aqui em Minas se diz que homem só briga por duas coisas: barra de saia ou barra de ouro.
O que me espanta é que, movidos pela repulsa, tenham deixado de perceber que o brasileiro não é dançarino de valsa, é passista de samba. O patuá que vocês querem enfiar em Lula é o do negrinho do pastoreio, obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo relho. O sotaque que vocês gostam é o nhém-nhém-nhém grã-fino de FHC, o da simulação, da dissimulação, da bata paramentada por láureas universitárias. Não importa se o conteúdo é grosseiro, inoportuno ou hipócrita (?esqueçam o que eu escrevi?, ?tenho um pé na senzala? ?o resultado foi um trabalho de Deus?). O que vale é a forma, o estilo envernizado.
As pessoas com quem converso não falam assim ? falam como Lula. Elas também xingam quando são injustiçadas. Elas gritam quando não são ouvidas, esperneiam quando querem lhe tapar a boca. A uma imprensa desacostumada ao direito de resposta e viciada em montar manchetes
falsas e armações ilimitadas (seu jornal chegou ao ponto de, há poucos dias, ?manchetar? a ?queda? de Dilma nas pesquisas, quando ela saiu do primeiro turno com 47% e já entrou no segundo com 53 ) ficou impossível falar com candura. Ao operário no poder vocês exigem a ?liturgia? do cargo. Ao togado basta o cinismo.
Se houve erro nas falas de Lula isto não o faz menor, como você disse, imitando o Aécio. Gritos apaixonados durante uma disputa sórdida não diminuem a importância histórica de um governo que fez a maior revolução social de nossa História. E ainda querem que, no final de mandato, o
presidente aguente calado a campanha eleitoral mais baixa, desqualificada e mesquinha desde que Collor levou a ex-mulher de Lula à TV.
Sordidez que foi iniciada por um vendaval apócrifo de ultrajes contra Dilma na internet, seguida das subterrâneas ações de Índio da Costa junto a igrejas e da covarde declaração de Monica Serra sobre a ?matança de criancinhas?, enfiando o manto de Herodes em Dilma. Esse cambapé de uma candidata a primeira dama ? que teve o desplante de viajar ao seu país paramentada de beata de procissão, carregando uma réplica da padroeira só para explorar o drama dos mineiros chilenos no horário eleitoral ? passou em branco nos editoriais. Ela é ?acadêmica?.
A esta senhora e ao seu marido você deveria também exigir ?caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade?.
Você não vai ?decidir? que Lula ficou menor, não. A História não está sendo mais escrita só por essa súcia de jornais e televisões à qual você pertence. Há centenas de pessoas que, de graça, sem soldos de marinhos, mesquitas, frias ou civitas, estão mostrando ao país o outro lado, a face oculta da lua. Se não houvesse a democracia da internet vocês continuariam ladrando sozinhos nas terras brasileiras, segurando nas rédeas o medo e o silêncio dos carneiros.
Carlos Torres Moura
Além Paraíba-MG
domingo, 8 de agosto de 2010
Formas de amar
Combater essas premissas é trabalho fácil. Difícil é conseguir nos desvencilhar de pensamentos, idéias, razões, entendimentos que não são nossos. Difícil é aceitar como o meio nos define, nos modela.
Querer, não querer, saber porque querer, não saber, imitar, sofrer acabam por ser relativizados também. Amor, formas de amar, é apenas um exemplo de que pensar com nossas cabeças é mais árduo do que se parece.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Cássio
As adversidades enfrentadas por ele no dia-a-dia não são bem percebidas pela pouca idade que tem. Teve sua casa destruída para dar espaço a construção do Banco Nacional de Angola, e sem apoio governamental passou mais da metade de sua vida morando sob uma tenda.
Muitos são os “Cássios” espalhados por Angola e por todo o mundo. Políticas habitacionais que não os excluam são o primeiro passo para garantir que a fotografia não seja apenas um sonho inócuo.


quinta-feira, 24 de junho de 2010
Luanda
Inacreditável é pensar que dentro de tantas adversidades encontra-se lugar para um sempre sorriso estampado nos rostos. Sempre solícitos e prestativos, no entanto calados diante de seus problemas. Talvez seja um grande trauma por um período tão grande de guerra. Não cultua-se por aqui o simples ato democrático de contestar e exigir mais dignidade.
As novas gerações dirão como tudo passará nos próximos anos, aliás o país é delas já que por aqui não se vive mais do que 40 anos em média. Resta saber como tudo acontecerá, se os motoristas dos luxuosos carros abaixarão seus vidros elétricos ou se será necessário que os pedestres os quebrem.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
O Homem ou o Cão?
Saía de casa em direção ao metrô, e por lá ele estava. Era a primeira vez que o via pelas ruas alfacinhas. Maltrapilho, descuidado, cabelo e barba por fazer, talvez sendo possível aproximar-me sentiria um forte odor, daqueles acumulados pela falta de água. Sobre um carrinho, semelhante aos dos “catadores de papelão” no Brasil, levava consigo poucos pertences, para muitos seria apenas lixo, para ele talvez as poucas coisas que possuía, carregadas quem sabe de um valor sentimental inestimável.
Seu canto era palavras irreconhecíveis, mas era carregado de uma emoção que não poderia descrever. “Palavras” que poderiam soar como um canto ou um protesto. Talvez muitos o considere um louco, enterrado em suas enfermidades sociais, mas a lucidez poderia ser contestada em momentos em que o sistema nos exclui de tal forma que nos deixa invisível perante aos ainda não excluídos/invisíveis?
Voltando para casa, pude vê-lo novamente, agora bem na Praça de Camões, reduto agora compartilhado com turistas, jovens com fins de manhãs livres, idosos sem companhia e talvez alguns vendedores de drogas. Mas sempre acompanhado de seu cãozinho, valente ao ladrar àqueles que ousam se aproximar, ainda mais se considerarmos o seu tamanho. Se não fosse esse pormenor muitos que ali passavam acariciariam sua cabeça e talvez a adoção passasse por suas mentes. E o canto do Homem perdera-se como uma trilha musical por muitos considerado desnecessário.
Não nego que o Cão tirou-me um sorriso do rosto após uma noite com poucas horas dormidas e de um dia não muito bonito carregado de nuvens negras cheias de água no céu. Será que o “canto” do seu rosnar e latir soam melhor nos nossos ouvidos?
terça-feira, 13 de abril de 2010
Sérgio Vieira de Mello
Apesar de brasileiro, fora pouco conhecido no Brasil já que a “grande mídia” (talvez mais adequado o uso do termo “mídia grande”) não o considerava digno de interesse em leitores mais acostumados em ler as fofocas, o que se passa na TV, ou ainda as notícias esportivas. Não que a mídia especializada ou revistas mais conceituadas se debruçassem sobre seu trabalho ou acontecimentos ligados à sua vida. A carência fora generalizada sobre uma das mais importantes autoridades internacionais brasileiras. Admito que talvez, se não tivesse afinidades profissionais que iam ao encontro do trabalho realizado por Sérgio, pouco saberia a seu respeito.
Sérgio fora assassinado no Iraque, em uma missão de paz da ONU que ele mesmo chefiava, em 2003 logo após a conturbada invasão estadunidense. Trabalhou durante cerca de três décadas na ONU e era o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Atuou em missões de paz em países como Camboja, Líbano, Kosovo, Ruanda e Timor-Leste. Mas o que mais chamava atenção nele era a forma como trabalhava, abdicando de hierarquias, conversando e olhando nos olhos de todos, buscando compreender e ouvir todas partes em um conflito mesmo que por detrás da mesa estivesse um genocída ou um ditador.
Ontem, assistindo um documentário sobre ele, pude reconhecer rostos, vozes, lugares, que antes somente com a leitura da biografia, eram apenas representações fantasiosas de minha mente. Ler, assistir, ouvir, ver o Sérgio é como um combustível àqueles que buscam no seu trabalho uma forma de deixar um legado de paz por onde passar.


quinta-feira, 5 de março de 2009
Mudanças climáticas e migrações forçadas
O Termo “Refugiado Ambiental” cada vez mais usado apesar de haver nenhuma definição na lei internacional, contradiz o conceito de refugiado (determinado a mais de meio século sem as devidas reformulações) já que nem todas as pessoas deslocadas pelas alterações climáticas fogem de violência ou atravessam as fronteiras nacionais.
Porém a questão essencial aqui não é a reformulação da Convenção de Genebra de 1951 (questão que serviu de base para uma postagem em 03/10/2008), mas sim a determinação de um termo internacionalmente reconhecido que servirá de sustentação ao censo destas pessoas e às futuras políticas que garantam sua proteção.
Os autores destacam que para maior alcance das intervenções políticas é necessária uma maior diferenciação da compreensão das diferentes formas de deslocamento ambiental; identificação com antecedência para prevenir; examinar as propostas e estratégias locais; monitorar tendências migratórias; desenvolvimento sustentável; além de mapear as regiões mais vulneráveis.
Ainda sublinham a importância de uma reformulação institucional, seja local, nacional ou internacional, destacam o papel dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, os impactos das mudanças ambientais nos meios de subsistência, podendo inclusive gerar conflito sobre os recursos restantes.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Violência de Gênero

A mutilação genital, além de atentar contra os direitos humanos, põe em risco a saúde, não apenas física, da mulher. O combate a outras práticas de violência de gênero, como a violência sexual, deve também estar presente na agenda política dos países, especialmente onde as instituições vêem-se enfraquecidas por confrontos civis ou internacionais, ou por sua submissão a um poder paralelo.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Quem paga a conta?
O Brasil é um Estado que possui hoje uma capacidade de responder rapidamente a calamidades como estas, além é claro de estar estrategicamente bem relacionado com as potências mundiais. E aqueles Estados que assim não estão? Quem responderia por sua população? Instituições transnacionais se responsabilizariam? Mas quem arcaria com os custos?
Se os Estados mais desenvolvidos e alguns em desenvolvimento são os principais poluidores e destruidores ferozes do meio-ambiente, por que não ser responsabilizados pelos efeitos destrutivos das “respostas” da natureza?
Enquanto esta questão permanecer fora das discussões e agendas dos principais atores políticos da atualidade, reforça-se a capacidade destrutiva dos países ricos e potencializa-se o desrespeito aos Direitos Humanos básicos à grande parcela da humanidade nos países pobres.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
E se Obama fosse africano?
Segue abaixo um artigo de Mia Couto publicado no Jornal Savana no último dia 14, que observa as ditaduras africanas como um impecilho da chegada ao poder dos "Obamas" africanos.
E se Obama fosse africano?
Por Mia Couto
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
domingo, 9 de novembro de 2008
Reforma das Instituições
O presidente Lula diz que esta reformulação institucional pode também ser incrementada com a criação de novas instituições. O subsecretário de assuntos internacionais do Tesouro Americano, David McCormick, acredita que a solução para a atual crise passa pela reformulação do G20 e do FMI entre outros órgãos multilaterais. Porém o Brasil deixou claro que isso seria improvável sem um crescimento da participação dos países em desenvolvimento.
O que pode-se colocar agora sobre a “mesa” é como na prática isso configuraria mudanças? Será que apenas mutações nas regras institucionais seriam capazes de reverter uma crise desse patamar?
Portes e Smith (2008) através de um inédito estudo camparativo sistemático de instituições reais e sua relação com o desenvolvimento nacional, buscam perceber a relevância de cada instituição no desenvolvimento. Para eles o conceito de instituição já muito discutido pela Sociologia e pela Antropologia Social vem sendo evidenciado pela Economia, dominada pelo paradigma neoliberal. O resultado tem sido numerosas tipologias ad hoc que vem gerando confusão pela multiplicidade dos elementos da vida social e suas interações.
Referências:
Portes, A.Institutions and Development: A Conceptual Re-Analysis, 2006.
Portes, A. Migration and Social Change: Some Conceptual Reflections, 2008.
Portes, A; Smith, L. Institutions and Development in Latin America: A Comparative Analysis, 2008.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u465879.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u465822.shtml
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Revisão da Convenção de 51 para os Refugiados
Apesar de ter ocorrido a quase seis décadas, a Convenção de Genebra de 1951 relativa ao Estatuto do Refugiado adotada quando da Conferência das Nações Unidas dos Plenipotenciários, continua sendo o principal instrumento internacional que regula a proteção dos refugiados, o que implica sua desatualização frente novas questões surgidas com a emergência de outros fluxos migratórios e com aspectos peculiares.
Apesar de pela primeira vez ser estabelecida uma definição geral de refugiado, deixando de lado as definições ad hoc; de se ter estabelecido o princípio do non-refoulement onde os Estados Contratantes da referida Convenção, não podem expulsar ou repelir um refugiado para as fronteiras do território onde sua vida ou liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou opiniões políticas (Artigo 33); e o estabelecimento dos direitos fundamentais e deveres dos refugiados no país de acolhimento, a presente Convenção peca por limitações temporais, geográficas e individuais.
A violação dos Direitos Humanos internacionalmente reconhecidos é o fator essencial das chamadas deslocações forçadas. Em alguns casos a deslocação é o objetivo das partes do conflito, em outras a pobreza e a discriminação são os determinantes para a deslocação. A violação dos direitos leva à violência e a instabilidade política que gera a deslocação.
O século 21 vem mostrando a relevância de se considerar os desastres ambientais, as omissões dos Estados frente aos acordos comerciais, as invasões imperialistas por fatores obscuros e estratégicos, as intolerâncias étnicas e religiosas como fatores determinantes nos fluxos migratórios, sejam eles definitivos ou não.
Segundo o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados António Guterres (pronunciamento em Londres em 17 de Junho de 2008 sobre o relatório intitulado Tendências Globais 2007) já são mais de 11 milhões os refugiados, 26 milhões os deslocados internos e 25 milhões os que perderam suas casas por desastres ambientais. Números que podem ainda ser contestados: pela dificuldade no censo dos deslocados internos visto que os Estados não querem assumir a violação aos direitos humanos de seus cidadãos; e os diferentes critérios em assumir quem pode ou não ser considerado um refugiado ou deslocado interno.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
O Princípio do Não-Intervencionismo no séc. XXI
Comumente, Estados desrespeitam os Direitos Humanos e princípios democráticos básicos como o direito ao voto dos seus cidadãos. O mundo neste momento volta sua atenção ao Zimbábue onde o presidente Robert Mugabe, no poder há quase três décadas, através de eleições assinaladas por perseguições, mortes e fraudes, venceu o escrutínio com 85% dos votos, após Morgan Tsvandirai, seu principal adversário abdicar de sua candidatura.
Alguns países africanos como Quênia e Serra Leoa, assim com EUA e União Europeia esperavam mais da Cúpula da União Africana ocorrida no Egito este mês, que foi caracterizada pela neutralidade dos anfitriões.
Sanções já são aplicadas e outras estudadas frente ao radicalismo do Governo zimbabuano, que diz que não irá ceder às pressões externas. Porém é preciso alertar que a aplicação de punições pode afectar principalmente a população civil, duramente oprimida.
O Chefe de Estado da Líbia, Moammar Gadahfi, em visita a Uganda neste ano, deixou claro o que pensa sobre as influências externas: "O partido de Museveni (Presidente de Uganda) precisa garantir que líderes tão bons como os irmãos Museveni não sejam depostos apenas por causa de algo como um voto".
Volta-se então a questão central debatida. Até que ponto o Princípio do Não-Intervencionismo e a garantida Soberania Estatal pode ferir os Direitos do Homem universalmente reconhecidos. Por que estes conceitos não podem ser revistos pelo prisma dos atuais fenômenos migratórios, desrespeitos sistemáticos dos Direitos Humanos e multiplicidade de conflitos econômicos, políticos e estratégicos mundiais?
No entanto estas questões devem ser debatidas onde países ricos e pobres tenham o mesmo poder em discussões, votações e elaborações de políticas. A contextualização nos dias atuais de princípios tão fortemente enraizados nos Estados-Nação devem levar em consideração que estes Estados não deixarão de ser os principais atores e estabilizadores mundiais, apenas verão suas competências serem flexibilizadas com as questões e problemas emergentes no século XXI.
Com os mesmos pesos e medidas poderá ser evitado em um futuro próximo: que a democracia e os princípios de igualdade não sejam violados; ao mesmo tempo que este debate não sirva para legitimar invasões imperialistas, onde os interesses econômicos e estratégicos e não os Direitos Humanos são os principais motivadores para se contestar a Soberania de Estados ainda não estruturados após o neo-colonialismo.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Cidadãos do Mundo
Quando se fala sobre o sistema capitalista, percebo que parece ser um caminho inevitável. Muitos simplesmente contrapõem o Capitalismo e o Socialismo, ou são radicais ao ponto de propor a derrubada do atual sistema sem propor outro que seja justo e igualitário, e que possa ser implementado sem preconceitos e totalitarismo.
É necessário que se pense em alternativas viáveis capazes de amenizar o sofrimento e a fome de grande parte da população brasileira e mundial, e se será necessária uma revolução, ou as mudanças aconteceriam gradualmente? Uma revolução pode ser mal vista pelas mudanças radicais e inesperadas, mas será que conseguiríamos transformar o que há hoje com mudanças graduais? Será que esta forma não seria apenas uma maneira dos poderosos de hoje se perpetuarem no poder e manter o abismo entre ricos e pobres?
Em qual proporção melhoramos nosso mundo racionando água, utilizando meios de energia renováveis, se o Mundo (digo as Nações e as Organizações Internacionais) não pressionarem e obrigarem o maior vilão da poluição mundial, os EUA, em pararem sua devastação do ar, do solo, da água etc.
É necessário que sejamos capazes de distribuir melhor os lucros das empresas multinacionais, que se instalam pelo mundo utilizando as melhores e mais baratas matérias-primas e as piores remunerações de mão-de-obra possíveis, não garantindo a estas pessoas a mesma dignidade que os cidadãos de seus países recebem.
É possível nos tornarmos cidadãos do mundo, lutando pela igualdade étnica, racial, sexual, de gênero, entre pessoas de todos os países, tolerando nossas diferenças mentais, físicas, religiosas, políticas, de idade, de idéias e pensamento.
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Memórias
O fogo entre as pernas é típico da idade.
Sai, volta tarde. Não tem o que falar.
Tapa na cara.
Chora.
Sua mãe pede: “não bate na menina, não”.
Amigos conversando. Dois nem tanto.
Nem tanto amigos, nem tanto conversando.
Digo que gosto. Ele grita.
Um tenta falar. Não consegue. Tenta de novo.
Ela não lê livros. Não gosta. Ele grita.
Afinidade se conquista, mas também é natural.
Todos bebemos, aí somos iguais. Mas ela não bebe.
Tínhamos oito anos. Descobrindo o sexo.
Já não se descobre o sexo como antigamente.
Cruzamos pela rua uns dez anos depois.
Cumprimentamos-nos. Ninguém para.
Grávida. Marginalizada. Maltrapilha.
Passa pela porta giratória. Atravessa.
Para em minha frente, me interrompe. Pede 10 “real”.
Digo que não tenho. Tinha no mínimo 50, pra ela pagar 150.
Não sei como. Talvez vendendo seu corpo, vendendo seu filho que ainda não nasceu. Roubando.
O banqueiro é humano, não empresta os 50 reais.
Ela não precisa se vender.
Festa na casa de um desconhecido.
Ônibus cheio. Mais de uma hora.
Chegamos.
Pego uma faca. Acerto em cheio o gelo. Outras facadas.
Latinhas de cerveja sob o gelo. Furo uma.
Vejo pela primeira vez seu sorriso.
quarta-feira, 25 de julho de 2007
Revistas




segunda-feira, 16 de julho de 2007
E o Pan, vale a pena?
O Pan do Brasil seria uma forma de impulsionar esse processo, mas o que se vê são: troca de favores; desperdício; interesse em projeção internacional etc.
O primeiro medalhista dourado do Brasil neste Pan, o lutador Diogo Silva desabafou na coletiva de imprensa. A Confederação Brasileira de Taekwondo paga a ele 600 reais por mês, normalmente com três meses de atraso. Na véspera do Pan, os pagamentos ficaram em dia.Enquanto isso os gastos do Governo chegam a quase 3 bilhões de reais, uma cifra assustadora em um país que atrasa 600 reais a um dos principais atletas de sua modalidade.
A candidatura brasileira para sediar o Pan venceu a estadunidense com um plano que não foi cumprido. A despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas e da baia de Guanabara, bem como uma nova linha de metrô ligando o centro ao Engenhão não foram realizados. Os gastos públicos que seriam em torno de 700 milhões, foram ascendendo cada vez mais, já que a iniciativa privada não cumpriu sua parte. A imagem do país que pretende sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 não pode ficar desgastada, e o Governo bancou.
E a mídia nacional não noticia, principalmente a televisão aberta. As emissoras compram os direitos dos jogos e preferem ignorar os relatórios do Tribunal de Contas da União indicando estouro de orçamento e atraso em obras.
Ignoram também os escândalos envolvendo troca de favores e licitações. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro é Carlos Arthur Nuzman. A figurinista da equipe olímpica brasileira é Mônica Conceição, sua cunhada. A agência de turismo que presta serviços ao COB é de Cristina Lowndes, amiga de Nuzman, que venceu uma licitação bastante contestada.
Marcus Vinicius Freire, diretor do COB, representa no Brasil a AON Seguros, que faz o seguro das delegações do próprio COB. Sócio de Alexandre Accioly, que ganhou o direito de comercialização dos bilhetes do Pan.
O que provavelmente a imprensa preferirá mostrar é o provável recorde de medalhas brasileiras, em esportes pouco tradicionais, já que países como os EUA, Canadá e até a Argentina mandarão segundas ou terceiras equipes em várias modalidades.